Educar, uma grande
virtude.
O que é uma virtude? É uma força que age, ou
que pode agir. Assim a virtude de uma planta e de um remédio, que é tratar, de
uma faca, que é cortar, ou de um homem, que é querer e agir humanamente. Esses
exemplos, que vêm dos gregos, dizem suficientemente o essencial: virtude é
poder, mas poder específico. A virtude do heléboro não é a da cicuta, a virtude
da faca não é a da enxada, a virtude do homem não é a do tigre ou da cobra. A
virtude de um ser é o que constitui seu valor, em outras palavras, sua excelência
própria: a boa faca é a que corta bem, o bom remédio é o que cura bem, o bom
veneno é o que mata bem...pág.4
(Sponville,
André Comte. Pequeno
Tratado das Grandes Virtudes.Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999.Tradução de
Eduardo Brandão)
Na sociedade globalizada e
consumista da qual fazemos parte, educamos nossas crianças para um mundo
mecanizado, informatizado, onde as relações sociais e interpessoais ficam em
segundo plano. Um mundo em que o computador invade casas, escolas, o trabalho,
roubando o espaço dessas relações, por uma educação solta pelas mídias sem que
se eduque para e com as mídias. Assim,
nossas crianças estão cada vez mais seduzidas a ter, TER o melhor tablet, o
melhor videogame, o melhor tênis, as melhores roupas e os melhores brinquedos.
Se partirmos da ideia de que nos construímos
humanos partindo das relações e das experiências, é então nas vivências dessas
relações entre seres e meios que tem inicio a transformação de uma humanidade
virtuosa. Tais relações formam uma teia construída por participações
socioculturais e valores morais, religiosos e educacionais.
Nas relações destaco as construções
no processo educacional, e facilmente encontramos autoridades do saber, nos
deparamos com educadores que estão habituados a induzir o estudante a acreditar
em certezas, em respostas prontas, que seguem uma única linha de raciocínio e a
formulas em tentativas lineares de alcançar a resposta correta. O educando
segue fórmulas e decora conceitos para que tenham o êxito esperado pelos
educadores nas avaliações. Os que não alcançam os resultados esperados passam a
ser rotulados nas dificuldades e transtornos da aprendizagem.
O educador que É e que FAZ, educa
para transformar, trabalha sabendo que cada educando aprende em tempo, com
metodologias e em espaços diferentes. Praticando a virtude da sensibilidade, da
ajuda, da proximidade, da compreensão, do respeito as limitações do seu
aprendiz, do cuidado, do amor ao próximo e da ética na profissão, aquele que
faz bem, não que necessariamente seja o certo.
O professor virtuoso sabe que não
existe a perfeição, e que o belo pode estar no imperfeito, e que o educando
precisa de algo atrativo para se encantar com os caminhos do saber, constroem
laços afetivos sustentados nos valores individuais e coletivos, o respeito, a
solidariedade, a cooperação, a colaboração, o companheirismo, o fazer com você
e por você. Esse professor coloca-se diante dos seus educandos como peça do
jogo de possibilidades do ensinar e do aprender, onde todos são atores, todos
deve ser a escola, não ir à escola.
Por fim, não acredito que virtude se
nasce com, como a cor da pele ou cabelo, não se ganha como um presente, mas que
nos adquirimos no processo de formação e transformação humana, seres que
praticam e semeiam o bem fazer. Não é o ser e fazer o correto, é ser o bem e
fazer o bem.
Tatiana Flores
Pedagoga